Em maio de 1921 centenas de pessoas brancas invadiram Greenwood, uma das comunidades negras mais prósperas dos EUA, que por este motivo era denominada “A Wall Street Negra“, saquearam, assassinaram e separaram várias famílias.

Segundo a BBC em publicação onde explica mais sobre o hoje conhecido como Massacre de Tulsa, cerca de 1000 casas e estabelecimentos foram incendiados e destruídos, além de deixar cerca de 10 mil pessoas desabrigadas.
Assim como nos livros de história aqui mesmo do Brasil, os EUA esconderam durante décadas o massacre, sendo discutido e levado ao conhecimento da população nos últimos anos. Eis que a HBO resolve então levar parte da história para a tela numa das melhores séries feitas nos últimos anos, sem sombra de dúvida.

A cena do massacre de Tulsa abre o primeiro episódio da série, sem nenhum pudor e nos mostra algo triste e revoltante. Michelle Brown, diretora de programação do centro cultural de Greenwood afirmou em entrevista à BBC que muitas pessoas brancas tinham raiva e inveja dos negros que prosperavam na cidade e que estes estavam roubando seus empregos, algo que vemos ainda em 2019 em relação à cotas raciais e políticas de ação afirmativa, necessárias e pontuais.
Watchmen estreou na HBO em 2019 e nos fez esquecer do fiasco das últimas temporadas da nossa tão amada Game of Thrones. Damon Lindelof (Lost / The leftlovers) é quem produz a série, tendo como base a história original da HQ de Allan Moore e Dave Gibbons, assim como do filme de Zack Snider lançado em 2009.

A série se passa numa espécie de 2019 alternativo” onde a tecnologia avançou, mas não existe celular e as pessoas se comunicam através de bipes (o que é extremamente compreensível conforme o decorrer dos episódios), além da polícia andar mascarada (como os heróis que escondem suas identidades) por medo da violência contra suas famílias.
É impossível distanciar o universo de Watchmen da política e das questões sociais que estão presentes desde sempre e agora ainda mais forte. Num universo onde existem heróis (que são ilegais), uma polícia mascarada surge também um núcleo ou célula da KKK – Ku Klux Klan denominada Sétima Cavalaria ou 7K, que nada mais é que uma milícia terrorista e que tem como ideais a supremacia branca em 2019.

A tensão é real e muito bem desenvolvida. É possível ver que houve um estudo da história negra norte americana, com citações a pessoas e eventos importantes, além da busca por deixar bem referenciados episódios reais e inspirados na realidade. A série além de ser milimetricamente roteirizada e filmada com maestria, traz atores de peso como Regina King (Se a Rua bale Falasse) e Louis Gosset Jr (The Book of Negroes).

Por retratar parte importante da história norte americana, é real a importância de trazer para a tv algo muito além de uma simples adaptação de uma HQ, trazendo consigo temas atuais sem deixar de lado todo um universo já construído e adorado por tantos.
A série consegue surpreender a cada episódio, repleta de cuidados nos detalhes e nas referências. E mais uma vez, REGINA KING ESTÁ SIMPLESMENTE INCRÍVEL.

Game of Thrones é passado e você caro amigo que não assistia GOT por ter personagens negros somente em situação de escravidão e servidão, assista Watchmen e se surpreenda com o quão incrível uma série pode ser.
Até o momento a série não tem previsão de estrear novas temporadas, o que é uma pena.
Watchmen é sem dúvida uma das melhores séries produzidas nos últimos anos. A série é transmitida pela HBO aos domingos às 23h.
Tick Tock Tick Tock
Um comentário em “Watchmen – entre o massacre de Tulsa e a Sétima cavalaria”