Sabe aquela série que te prende no sofá e quando você assusta já está no meio da temporada? Seven Seconds foi capaz de me prender no sofá por horas a fio, porém de uma maneira bem dolorosa.
Terminei de assistir e fiquei louca para compartilhar com vocês minhas experiências, mas não consegui escrever uma linha sequer até a data de hoje. Falar sobre a morte do povo negro é doloroso e muito real.
Dirigida por Gavin O’Connor e produzida por Veena Sud (The Killing) para a Netflix, a série nos transporta para um bairro nos EUA onde a tensão racial é intensa e o abuso da polícia também. A truculência, corrupção e a brutalidade da polícia são abordadas de maneira intensa, além de vários momentos onde faz-se questionamentos morais da sociedade como um todo.

A série é uma adaptação do filme russo “The Major” (2013). Um policial atropela uma criança negra e se divide entre confessar o acontecimento ou encobrir a morte da criança. Veena Sud, assim como em “The Killing” (também da Netflix) nos entrega episódios tensos e às vezes bem arrastados e densos. Muitos diálogos longos e cheios de emoção, principalmente dos pais de Brenton Butler, interpretados por Regina King (American Crime) e Russell Hornsby (Fences).
A dor sentida pela mãe, contribui para que a promotora KJ Harper (Clare-Hope Ashitey)(que diga-se de passagem merecia uma personagem melhor elaborada) se empenhe, junto com seu parceiro a descobrir o que de fato havia acontecido com Brendon.

Confesso que a maneira como a personagem KJ Harper foi construída. Uma mulher negra, inteligente, porém completamente descrente de seu potencial e competência, com uma família desestruturada, além de ser alcoólatra. Sabemos que estas características foram necessárias, quando durante a série percebemos os ganchos que KJ Harper deixa, mas mesmo assim, não concordo.

É doloroso ver em diálogos entre os próprios policiais e suas famílias o quão pouco a vida de uma criança negra importa. Talvez seja o fato da proximidade com a realidade que me fez ter tanta dificuldade em fazer esta publicação, frente aos últimos acontecimentos. É cruel ver, a todo o momento, o chefe da equipe Mike Diangelo (David Lyons) afirmar que se caso Peter Jablonski (Beau Knapp) se entregasse como quem atropelou Brendon, New Jersey, onde o crime aconteceu, se transformaria na cidade de Ferguson.

A dificuldade para provar que os policiais eram de fato culpados, nos faz pensar que os EUA estão bem próximos do nosso país quando falamos sobre genocídio do povo negro e a corrupção nas polícias.
Em 10 episódios, Seven Seconds nos mostra o poder imprensa, da polícia e da população frente aos descasos de alguns crimes. O final é cruel, mas nada do que não estejamos acostumados. Sem fantasias.
A população abraçou a busca da família de Brendon, mas como em qualquer outra situação real, nem sempre nós negros conseguimos justiça.

O que vamos fazer?