Como sabemos o mês de março é repleto de atrações em homenagem às mulheres e este ano não foi diferente, porém especial.
No dia 12 de março, aconteceu no Memorial Minas Vale o Canjerê Mulher, com o musical Gelèdés – O poder do Canto Feminino. Organizado e produzido pelo Casarão das Artes, o musical teve como foco principal, valorizar a produção cultural das mulheres negras de Belo Horizonte.
Mas o que é Gelèdés? Gelèdés é a denominação de sociedades secretas femininas de caráter religioso do povo Yorubá. Tradição que os escravos conseguiram manter no Brasil e, de alguma forma, vive até hoje nos Orixás do Candomblé. As Gelèdés são compostas por apenas mulheres a partir dos 40 anos e seus rituais acontecem na região da Nigéria¹.
As Gelèdés são conhecidas como as “Senhoras da Noite”. São mulheres que demonstram seus poderes quando estão reunidas, segundo a tradição, podendo dominar a natureza e até mesmo o mundo, sendo muito temidas e respeitadas pelos homens.

O musical não poderia ter um nome melhor!! Gelèdés – O poder do Canto feminino, teve a participação das cantoras Eda Costa e D’aiolla com suas vozes incríveis, acompanhadas pelos músicos Gleison Junio, Débora Gregório e Felipe Venceslau maravilhosos que acompanharam na percussão e violão. Representação da força e do poder da mulher negra e afro.
“Inspiradas na mulher Yorùbá (admirada, respeitada e temida pelos homens por seu poder de ser mãe), as Gelèdés são as ‘Senhoras da Noite”, mulheres que colocam em ação seus poderes e, quando reunidas, podem dominar o mundo, a natureza e todas as coisas. Por isso são consideradas bruxas, feiticeiras, e são temidas pelos homens.” Casarão das Artes / Foto: Jéssica Pinheiro
É impossível descrever o que sentiu-se ao acompanhar este musical. Músicas em Yorubá que entoavam o poder da mulher negra e declamações com forte empoderamento, fizeram com que fosse mais do que um simples espetáculo, tornou-se parte de nós.
Além das músicas maravilhosas, tivemos o prazer de ouvir poesias declamadas com a força que só uma mulher negra tem. De tocar a alma.
Um dos pontos fortes da apresentação foi a encenação do poema espanhol “Gritaram-me negra” declamado originalmente pela compositora peruana Victoria Eugenia Santa Cruz Gamarra. No poema percebe-se a dor de uma mulher por ser negra durante sua infância e o descobrir-se negra é de fato maravilhoso.
“E odiei meus cabelos e meus lábios grossos / e mirei apenada minha carne tostada / E retrocedi / Negra! (…) / E bendigo aos céus porque quis Deus / que negro azeviche fosse minha cor / E já compreendi /AFINAL /Já tenho a chave!”
Vejam algumas fotos do evento e sintam um pouco do que foi este espetáculo maravilhoso!



O Beleza Black Power teve o prazer de comparecer ao evento, juntamente com o Clube de Blogueiras Negras de Beagá e as meninas dos Blogs Danny Mendes Blog, Negras do Brasil , Blackacheadas e Na Veia da Nêga.


O evento foi maravilhoso e trouxe para perto nossa ancestralidade e a resistência da mulher negra. Saímos mais fortes e nos amando ainda mais por sermos negras.Sigamos na luta!
_________________________________
¹ LOPES. Helena Theodoro.Artigo: Mulher negra, mitos e sexualidade. Grupo de Trabalho 6. Universidade Gama Filho. Disponível em : http//www.mulheresnegras.org/santos3
²Fonte: http://www.uesb.br/anpuhba/artigos/anpuh_II/luzia_gomes_ferreira.pdf