Não é só por cabelo. É muito mais do que isso.
Quem não se lembra da época da escola onde sofria bulling (racismo) por parte dos “coleguinhas” por ter cabelo crespo ou usar tranças? Quem não se lembra de ser desprezada pelas “amiguinhas” brancas (ou infelizmente até negras de pele clara), por sua pele preta ou seu cabelo alisado que nunca ficava como os cabelos das brancas, por mais que você cuidasse. Então, isso ainda dói. E isso ainda acontece com nossas crianças, nos ambientes de trabalho e nas rodas sociais. “Essa realidade não mudou. Agora ela vem se ampliando, porque os cabelos estão sendo ”aceitos”, mas o racismo continua”.
Desde quando me descobri negra (apesar de ter sofrido a vida inteira com racismo velado e desprezo das “amigas” que também nunca se enxergavam negras além das brancas e loiras) percebi que nossa luta vai muito além dos nossos cabelos crespos. É um ato político.
Assumir-me como sou foi um processo dolorido e sofrido. Recebi muitos elogios pela “coragem” e muitas críticas por deixar meu cabelo “duro”, sem alisar. Cheguei a ouvir que era absurdo e que não aguentaria um mês. Ainda escuto isso, depois de um ano sem química.
Muitas mulheres negras não usam os seus cabelos crespos por medo de não serem aceitas na sociedade e no meio em que vivem. Dizer que prefere ser alisada é muito complexo, e acredito do fundo do coração (e após diversas leituras) que não é somente uma simples questão de preferência. É uma questão de aceitação.
O cabelo crespo não aparece sozinho. Ele vem carregado de empoderamento e autoestima elevada. Vem com uma bagagem repleta de identidade e resistência contra a opressão racista. Nosso empoderamento aparece quando passamos a ter consciência da realidade sofrida que nos acompanha há anos e nos enxergamos negras, mesmo quando não querem que sejamos.
Pensando nessa aceitação e empoderamento, vários eventos são realizados, levando discussões, debates e oficinas que ajudem à mulheres e homens terem consciência política e social daquilo que são e da sociedade que os cercam. Aproveitando o mês da Consciência Negra (sim, consciência negra e não consciência humana!) a programação de palestras, eventos culturais e debates estão espalhados pela cidade. Participe!
Não deixe que o padrão eurocêntrico que sempre nos foi imposto, continue ditando as regras.
Liberte-se.
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Encrespa Geral
Quando: 22 de novembro / 11h às 18h
Onde: Centro Cultural Padre Eustáquio
Mais informações: https://www.facebook.com/events/803119516484346/
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Encontro de Trançadeiras “Força Trançadas”
Quando: 15 de novembro / 14h às 20h
Onde: Mercado da Lagoinha
Mais informações:
https://www.facebook.com/events/499824860191836/
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1ª Caminhada Crespa de BH
Quando: 29 de novembro / às 13h
Onde: Praça Sete de Setembro
Mais informações: https://www.facebook.com/events/1659967740956173/